domingo, 15 de março de 2015

Democracia sempre. Ódio e sectarismo não!

Sede do PT em Jundiaí teve bomba
e vandalismo.
As manifestações desta sexta (13) e domingo (15) fazem parte da democracia que ajudamos a construir. O que vem preocupando muito, não é somente o desejo expressado por muitos, sobre a política econômica, o caso "lava jato" ou a defesa da Petrobrás, dentre outros. Discordâncias e divergências, prós ou contras, quando manifestadas pacificamente, reforçam o processo de atenção de toda a sociedade.

Devemos observar, e não é de hoje, o ódio e sectarismo embutido em vários manifestantes, alguns materializando isso como nestas fotos, e de outras formas pelas redes sociais. O pedido de volta dos militares, que pobre do Bolsa Família é vagabundo, desejos de extinção do PT, ofensas entre amigos que pensam diferente sobre o momento,... está preocupando. Passou dos limites da democracia.

Reproduzo aqui, para reflexão, um trecho da música do Charlie Brown Jr: "...um homem quando está em paz não quer guerra com ninguém..."

O desejo externado de alguns manifestantes no
protesto deste domingo em Jundiaí


Os danos na sede do PT em Jundiaí
após bomba deste domingo

Um comentário:

  1. Faço juz as palavras de Leonardo Boff


    Estamos constatando que vigora atualmente muito ódio e raiva na sociedade, seja pela situação geral de insatisfação que perpassa a humanidade, mergulhada numa profunda crise civilizacional, sem que ninguém nos possa dizer como seria a sua superação e para onde este voo cego nos poderia conduzir. O inconsciente coletivo detecta este mal-estar como já antes Freud o descrevera em seu famoso texto O mal estar na cultura (1929-1930) e que, de alguma forma, previa os sinais de uma nova guerra mundial.

    O nosso mal-estar é singular e se deriva das várias vitórias do PT com suas políticas de inclusão social que beneficiaram 36 milhões de pessoas e elevaram 44 milhões à classe média. Os privilegiados históricos, a classe alta e também a classe média se assustaram com um pouco de igualdade conseguida pelos do andar de baixo. O fato é que, por um lado vigora uma concentração espantosa de renda e, por outro, uma desigualdade social que se conta entre as maiores do mundo. Essa desigualdade, segundo Marcio Pochmann no segundo volume de seu Atlas da Exclusão social no Brasil (Cortez 2014) diminuiu significativamente nos últimos dez anos mas é ainda muito profunda, fator permanente de desestabilização social.

    Como notou bem o economista e bom analista social, do partido do PSDB, Luiz Carlos Bresser Pereira, o que foi assumido em sua coluna dominical (8/3) por Verissimo, tal fato fez surgir um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos a um partido e a um presidente; não é preocupação ou medo; é ódio; a luta de classes voltou com força; não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.

    Estimo correta esta interpretação que corrobora o que escrevi neste espaço com dois artigos "O que se esconde atrás do ódio ao PT". É a emergência de milhões que eram os zeros econômicos e que começaram ganhar dignidade e espaços de participação social, ocupando os lugares antes exclusivos das classes beneficiadas. Isso provocou raiva e ódio aos pobres, aos nordestinos, aos negros e aos membros da nova classe média.

    O problema agora é: como desmontar este ódio? Uma sociedade que deixa esse espírito se alastrar, destrói os laços mínimos de convivência sem os quais ela não se sustenta. Corre o risco de romper o ritmo democrático e instaurar a violência social. Depois das amargas experiências que tivemos de autoritarismo e da penosa conquista da democracia, devemos, por todos os modos, evitar as condições que tornem o caminho da violência, incontrolável ou até irreversível.
    Precisamos dar mais espaço à nossa cordialidade positiva (pois há também a negativa) que nos permite sermos mais generosos, capazes de olhar para frente e para cima e deixar para trás o que ficou para trás e não deixar que o ressentimento alimente a raiva, a raiva o ódio e o ódio, a violência que destrói a convivência e sacrifica vidas.

    As igrejas, os caminhos espirituais, os grupos de reflexão e ação, especialmente a midia e todas as pessoas de boa-vontade podem colaborar no desmonte desta carga negativa. E contamos para isso com a força integradora dos contrários que é o Espírito Criador que perpassa a história e a vida pessoal de cada um.

    Leonardo Boff

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