domingo, 6 de janeiro de 2019

Estado laico, ecumênico ou evangélico?

A ideia de um Estado Laico surge no período da Revolução Francesa, em que era proposto a separação total entre Igreja e Estado. Para cumprir essa meta, o Estado laico tem que se declarar neutro e não interferir em nenhum assunto relativo à religião. Por sua parte, nenhum grupo religioso e étnico, teria o direito de se intrometer nos temas políticos. Na origem, um Estado laico não deve receber influência de nenhuma religião. Embora a definição de laicidade mais moderna seja a da convivência estatal com todas as religiões e os sem-religião, na prática, ficou o conceito reformista do fim do século XVIII na cultura do Brasil: política e religião não se misturam. Pelo menos até a poucos meses. O conceito de Estado laico não é este, e sim o da convivência e o reconhecimento de todas as religiões e culturas diversas.

No período de formação da Igreja uma de suas principais características era a união, a solidariedade e o amor fraternal, porém, ao longo dos séculos esse ideal foi se desintegrando. A grande divisão teve início entre cristãos latinos e gregos, que teve seu cume no século XI. Mais tarde, no século XVI houve a separação entre católicos e protestantes, em seguida outras divisões foram surgindo ao longo da história. Ecumenismo é a busca da unidade entre todas as igrejas cristãs. É um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas. A ideia de ecumenismo é exatamente reunir o mundo cristão. Na prática, porém, o movimento compreende diversas religiões inclusive aquelas não cristãs. Há diversas opiniões sobre o conceito e uso mais adequado para os tempos atuais: Divulgar e praticar mais o verdadeiro sentido do Estado laico ou dar outra dimensão a um Estado ecumênico?

O movimento reformista cristão do século XVI liderado por Martinho Lutero, em 1517, culminou na cisão e início do movimento protestante à Igreja Católica. A partir daí todas as novas denominações cristãs, porém não católicas, eram denominados protestantes. Atualmente na Europa e nos Estados Unidos os cristãos católicos e os não católicos se auto identificam, majoritariamente, apenas como cristãos, sendo secundária a ramificação da denominação religiosa ao qual pertencem, no Brasil e na américa latina, a identificação protestante e denominacional, tem sido fundamental. Por aqui, é mais comum usar os termos: “Crente” (geralmente com a conotação pejorativa para quem é mais pobre) ou “Evangélico” (geralmente o mais usado, e também mais forte entre os fiéis de classe média). E a denominação faz parte do sobrenome: da Assembléia de Deus, da Quadrangular, da Universal, da Luterana. Os evangélicos nas últimas duas décadas estão crescendo sua relação com a política eleitoral.

No Brasil deste século, o Estado não foi predominantemente laico, nem ecumênico ou evangélico. A história mais antiga e ligada aos colonizadores, fizeram com que muitas tradições e comemorações católicas se incorporassem ao calendário estatal. Isso não fez a prática das ações estatais, e de seus governantes nas últimas três décadas pelo menos, serem eminentemente católicas. Mas é inegável que de uns 20 anos para cá houve significativo avanço das religiões na influência do voto nas eleições. E por consequência, mais cargos sendo ocupados por autoridades que se dizem “religiosos praticantes”. Isso levaria o Estado da condição de laico para ecumênico ou evangélico? Até onde o discurso e a prática serão os mesmos? O fundamental da imensa maioria das religiões, e daqueles que as professam, deve continuar sendo: a caridade, os mais pobres e o diálogo. Mas vamos precisar conferir, estão confundindo!