terça-feira, 11 de agosto de 2015

Meus motivos para sair do PT

Após 32 anos de militância pelo Partido dos Trabalhadores (PT), dos quais 25 como filiado, estou deixando a sigla. Para que meus amigos, e a sociedade como um todo, entendam meus motivos, é preciso, antes, registrar porque entrei.

Em um período de reconstrução da democracia no país da década de 1980, e com meus vinte e poucos anos, meu interesse em participar das atividades políticas e compreender melhor o sentido pleno da cidadania, de fazer a hora e não esperar acontecer, foi aumentando. O PT acabava de ser fundado por Lula e com fortes raízes nos sindicatos, na igreja católica e entre os estudantes e docentes das universidades. Neste mesmo período, eu participava da comunidade católica, era metalúrgico e cursava a faculdade de administração. Maior identidade contextual, impossível.

Embora já participasse de palestras e algumas atividades na cidade, formalizei minha filiação ao partido em 1990, animado por contribuir com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Com essa disposição, fui eleito vereador por três vezes (1997, 2001 e 2009), deputado federal (2003) e agora vice-prefeito (2013).

Nas últimas duas décadas, a democracia se consolidou, a relação entre capital e trabalho evoluiu e as conquistas sociais são inegáveis. Tivemos forte participação nestes resultados. Porém, com o crescimento do PT, aumentaram também os problemas de identidade após a repetição de erros estratégicos e ideológicos. Assim, com o distanciamento dos ideais originais, comecei a reflexão sobre sair ou continuar, tendo alguma expectativa da retomada de rumos e posturas. É claro, os tempos são outros, mas era necessário que o partido enfrentasse os desafios contemporâneos sem perder a essência, sem se permitir envolver tanto pelo sistema político distorcido, sem atuar como alguns grandes partidos tradicionais para manter o poder. Vinha falando dessa minha divergência em momentos oportunos a várias lideranças estaduais e nacionais, sem perceber resultados mais efetivos.

Resolvi, então, aguardar os resultados do 5º Congresso Nacional do PT, que aconteceu em junho deste ano. Era meu último fio de esperança. Infelizmente, a essência não foi retomada. Perde-se a oportunidade de construir uma estratégia nova, ouvindo suas bases históricas. Falta o pragmatismo necessário para fazer a revisão urgente diante do momento complexo por qual passa o país e em especial o partido.

Para alguns amigos que ainda querem tentar no PT, desejo sorte e agradeço. Mas, para mim, as ideias já não batem e as coisas no partido não fazem o mesmo sentido do início da trajetória. Chegou o limite. Os mesmos sonhos e a luta por uma sociedade mais justa nunca vão acabar, eles continuam comigo onde eu estiver.

Artigo públicado no Jornal de Jundiaí em agosto/2015: http://www.jj.com.br/colunistas.asp?codigo=1593

Leonardo Boff, também com um texto inspirador: https://leonardoboff.wordpress.com/2015/08/16/o-pt-ou-se-renova-ou-se-mediocriza-de-vez/