terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Por que adiar a volta às aulas?

Em março de 2020 muitos imaginavam que essa pandemia por Covid-19 faria a suspensão das aulas acontecerem por 3 ou 4 meses apenas. No mundo todo ainda não se tinha a dimensão do impacto do vírus, do comportamento social e da falta de postura assertiva de alguns governos. Completamos o ano com as escolas sem alunos e iniciamos 2021 em meio a um bom debate e sobre retornar ou não as aulas presenciais, mesmo que de forma híbrida, ou seja, um meio a meio, não exatamente nas mesmas proporções. Os olhares de quem defende, ou é contra, vão do psicológico ao social, do pedagógico à saúde pública. Mas cada coisa tem seu peso nessa decisão!

CONSTATAÇÕES:

Essa parada repentina acabou revelando ainda mais a deficiência, ou inexistência, de um modelo suplementar de aulas e interação por plataformas digitais educacionais. Assim como a surpresa para maioria dos educadores no uso destas tecnologias, até porque não era necessário, quer seja pelo aspecto técnico, de desenvoltura de cada um diante da “telinha” do computador ou até mesmo pela ausência de equipamentos de informática e conteúdos próprios. Muitos "seguraram a onda" até que bem.

No final do ano passado, quando os governos discutiam o retorno às aulas em 2021 e em quais formatos, o cenário da pandemia no Brasil ainda não se mostrava tão galopante e assustador como agora. Em novembro de 2020 a média de óbitos por corona vírus estava em torno de 400 pessoas por dia (que já não era pouco). Do dia 10 de janeiro até hoje, á média é mais de 1.000 pessoas por dia. Especialistas apontam que se não houver forte distanciamento social e barreiras que impeçam aglomerações, até que a maioria da população seja vacinada - o que, pelo andar das coisas, não atingirá esse nível no primeiro semestre - ainda teremos um cenário alto de óbitos e pessoas sendo contaminadas.

A VOLTA ÀS AULAS:

Alguns argumentos favoráveis para volta às aulas (presencial total ou parcial): a) nas famílias os adultos trabalham e contam com os períodos escolares para que possam "ficar com os filhos". Quando se trata de escola em período integral, ainda é uma justificativa plausível. Mas a maioria dos alunos estudam meio período. São avós, irmãos mais velhos ou "alguém" da família que fazem as vezes de babá e resolvem a questão; b) prejuízo da falta de convivência dos alunos pela quebra repentina da rotina e da socialização. É um apontamento correto e válido, mas não pode ser tratado isoladamente; c) perda pedagógica de conteúdos, e mais ainda quando comparada às boas escolas particulares, o que também tem fundamento. Todos perdemos, nas escolas públicas, mais. Mas por acaso vamos conseguir reparar este desnível ou deficiência bem agora?

Os argumentos contrários a volta às aulas: a) a segunda onda voltou forte e não teremos vacina suficiente para boa parte da população brasileira até metade deste ano; b) crianças e adolescentes também "levam e trazem" o vírus Covid-19 (aquela idéia de que esse índice é muito baixo, vem caindo a cada semana). Portugal decidiu suspender as aulas por 15 dias semana passada - não fazê-las remotas - seria como férias extras, por conta da forte onda de contaminação que voltou ao país; c) novas cepas do corona vírus tem sido detectadas. Até agora não é nenhuma "formação de novo vírus" mas já se diagnosticou que é mais contagioso do que há seis meses, por exemplo.

Por tudo isso defendo que as aulas das escolas públicas, e particulares também (afinal, distanciamento e precaução são para todos), adiem o retorno presencial parcial para março ou quando houver maior estabilidade. Até lá, que se inicie como no ano passado e que se aprimorem nas escolas públicas as plataformas digitais e de conteúdos. O modelo híbrido veio pra ficar - já era pensado bem timidamente, e agora entrou na pressão, o que não significa que será metade do tempo presencial e a outra metade, remota - mas que seja introduzido, devidamente dosado, bem utilizado e visto como ferramenta complementar. Afinal, o processo de educação deve também ter a dimensão de preparar os cidadãos para os desafios da sociedade contemporânea, inclusive no mundo digital. Portanto, sem relutância, devemos investir e nos capacitar para tal realidade, sem expor as crianças, as famílias e a sociedade neste momento! Por tudo que passamos, e estamos vivenciando hoje, manter por 30 dias as aulas exclusivamente remotas, para uma melhor e coerente análise da pandemia, é urgente! Todo mundo pedindo para não aglomerar e nós vamos iniciar as aulas semipresenciais justo agora nesse cenário? A saúde e a vida vem como prioridade!