Após 32 anos de militância pelo Partido dos Trabalhadores (PT),
dos quais 25 como filiado, estou deixando a sigla. Para que meus amigos, e a
sociedade como um todo, entendam meus motivos, é preciso, antes, registrar
porque entrei.
Em um período de reconstrução da democracia no país da década de 1980,
e com meus vinte e poucos anos, meu interesse em participar das atividades
políticas e compreender melhor o sentido pleno da cidadania, de fazer a hora e
não esperar acontecer, foi aumentando. O PT acabava de ser fundado por Lula e
com fortes raízes nos sindicatos, na igreja católica e entre os estudantes e
docentes das universidades. Neste mesmo período, eu participava da comunidade
católica, era metalúrgico e cursava a faculdade de administração. Maior
identidade contextual, impossível.
Embora já participasse de palestras e algumas atividades na cidade,
formalizei minha filiação ao partido em 1990, animado por contribuir com a construção
de uma sociedade mais justa e igualitária. Com essa disposição, fui eleito
vereador por três vezes (1997, 2001 e 2009), deputado federal (2003) e agora
vice-prefeito (2013).
Nas últimas duas décadas, a democracia se consolidou, a relação entre
capital e trabalho evoluiu e as conquistas sociais são inegáveis. Tivemos forte
participação nestes resultados. Porém, com o crescimento do PT, aumentaram
também os problemas de identidade após a repetição de erros estratégicos e
ideológicos. Assim, com o distanciamento dos ideais originais, comecei a
reflexão sobre sair ou continuar, tendo alguma expectativa da retomada de rumos
e posturas. É claro, os tempos são outros, mas era necessário que o partido
enfrentasse os desafios contemporâneos sem perder a essência, sem se permitir
envolver tanto pelo sistema político distorcido, sem atuar como alguns grandes
partidos tradicionais para manter o poder. Vinha falando dessa minha
divergência em momentos oportunos a várias lideranças estaduais e nacionais,
sem perceber resultados mais efetivos.
Resolvi, então, aguardar os resultados do 5º Congresso Nacional do
PT, que aconteceu em junho deste ano. Era meu último fio de esperança. Infelizmente,
a essência não foi retomada. Perde-se a oportunidade de construir uma
estratégia nova, ouvindo suas bases históricas. Falta o pragmatismo necessário para
fazer a revisão urgente diante do momento complexo por qual passa o país e em
especial o partido.
Para alguns amigos que ainda querem tentar no PT, desejo sorte e
agradeço. Mas, para mim, as ideias já não batem e as coisas no partido não fazem
o mesmo sentido do início da trajetória. Chegou o limite. Os mesmos sonhos e a
luta por uma sociedade mais justa nunca vão acabar, eles continuam comigo onde
eu estiver.
Artigo públicado no Jornal de Jundiaí em agosto/2015: http://www.jj.com.br/colunistas.asp?codigo=1593
Leonardo Boff, também com um texto inspirador: https://leonardoboff.wordpress.com/2015/08/16/o-pt-ou-se-renova-ou-se-mediocriza-de-vez/
Artigo públicado no Jornal de Jundiaí em agosto/2015: http://www.jj.com.br/colunistas.asp?codigo=1593
Leonardo Boff, também com um texto inspirador: https://leonardoboff.wordpress.com/2015/08/16/o-pt-ou-se-renova-ou-se-mediocriza-de-vez/